segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O ator que inventou o palco


"Pergunte-se a qualquer ator qual o sentimento mais marcante em sua carreira, e a resposta será sempre a mesma: o medo da rejeição – em testes para papéis, por parte do público, vinda dos pares. Seria possível imaginar que, com seis décadas de uma carreira brilhante no teatro, durante a qual atuou ocasionalmente também no cinema e na televisão, Paulo Autran estaria indiferente a esse fantasma. "O temor não diminui. Na verdade, fica maior a cada vez", disse, já sexagenário, às vésperas de uma estréia. Morto no último dia 12, aos 85 anos, de um câncer de pulmão, Autran atravessou todos os modismos do teatro nesses sessenta anos e sobreviveu não apenas a eles, como também às mudanças de sua principal ferramenta – seu físico. Começou jovem e belo, depois de abandonar a advocacia, em peças como Um Deus Dormiu Lá em Casa – sua estréia profissional, em 1949. Foi incomparável na meia-idade (na qual fez seu filme mais célebre, Terra em Transe, de Glauber Rocha) e expôs-se frágil, mas sempre atilado, na velhice. Tanta longevidade não decorreu só da versatilidade, que lhe permitia atacar de comédias ligeiras a Pirandello e Shakespeare sem desafinar, ou da disposição e da saúde – a qual só no último ano lhe faltou de fato. Autran renovou a si mesmo e ao teatro sobretudo por causa desse temor tão salutar que, aliado à sua vontade pelo que fazia, o manteve lúcido e inquieto. De acordo com os colegas, Autran era o padrão-ouro. Para o público de teatro, era a única recomendação necessária para que se decidisse comprar um ingresso. Nas poucas novelas que fez, magnetizou espectadores que nunca o haviam visto no palco ou numa tela. Teria sido, enfim, uma unanimidade, não houvesse uma pessoa sempre pronta a discordar de sua presumível infalibilidade – ele próprio."
-->Foi uma perda incalculável...
(Artigo da revista Veja. Imagem:Rui Mendes)

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Delírio


DELÍRIO! O teatro permite nuances de expressão que estão guardadas no nosso corpo, impressas em nossa mente primitiva e que se projeta para a alma futura. A expressão honesta traduz histórias ainda não vividas e nos recorda o quanto ainda não existimos!
(Isso eu roubei do álbum do Jair)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

..::Conselho a mim mesma::..

"O ator deve trabalhar a vida inteira, cultivar seu espírito, treinar sistematicamente os seus dons, desenvolver seu caráter; jamais deverá se desesperar e nunca renunciar a este objetivo primordial: amar sua arte com todas as forças e amá-la sem egoísmo."


(Constantin Stanislavski)

sábado, 22 de setembro de 2007

Elenco ok. Figurino ok. Iluminação ok. Texto ok. Direção ok. Mas se faltar você o teatro não acontece.




Toca o terceiro sinal. Apagam-se as luzes. Abrem-se as cortinas. Vai começar a peça. Quem já viveu esta experiência sabe o tipo de emoção que é. O público é essencial nesse enredo: na troca de emoções com os atores dá-se a magia do espetáculo. A peça encenada hoje nunca será idêntica à de ontem nem à de amanhã. Porque, no teatro, cada momento é único.

Alías, não esqueça, hoje tem espetáculo. Não perca!

sábado, 15 de setembro de 2007

Sobre o Teatro Cotidiano (fragmentos)




Vocês, artistas que fazem teatro
Em grandes casas e sob sóis artificias
Diante da multidão calada, procurem de vez em quando
O teatro que é encenado na rua.
Cotidiano, vário e anônimo, mas
Tão vívido, terreno, nutrido da convivêcia
Dos homens, o teatro que se passa na rua.

Aos que imitam, apenas para mostrar
Que sabem imitar bem; nao, eles têm
Objetivos à frente. Vocês, grandes artistas
Imitadores magistrais, não fiquem nisso
Abaixo deles. Não se distanciem
POr mais que aperfeiçoem sua arte
Daquele teatro cotidiano
Cujo cenário é a rua.

A misteriosa transformação
Que supostamente se dá em seus teatros
Entre camarim e palco: um ator
Deixa o camarim, um rei
Pisa no palco, aquela mágica
Da qual com frequência vi a gente dos palcos rir
Copos de cerveja na mão, não ocorre aqui.

Nós falamos textos alheios, mas os namorados
Os vendedores também aprendem textos alheios, e com que frequência
Todos vocês citam ditados! Assim
Máscara, verso e citação tornam-se comuns, mas incomuns
A máscara vista com grandeza, o verso falado bonito
E a citação apropriada.

Para que nos entendamos: mesmo se aperfeiçoassem

O que faz o homem da esquina, vocês fariam menos
Do que ele, se o seu teatro fizessem
Menos rico de sentido, de menor ressonância
Na vida do espectador, porque pobre de motivos e
Menos útil.

(Bertolt Brecht)

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Sacerdócio no tablado


Por que as pessoas vao ao teatro ainda hoje? Por que, passadas décadas do advento da televisão, continuamos abandonando o conforto dos sofás, o descompromisso das telenovelas e Big Brothers para nos espremermos nas ante-salas, depois de quase perdermos a batalha dos congestionamentos?

A resposta é que vamos ao teatro como se fôssemos a uma igreja, a um templo. Para afastar os demônios e clamar pela benevolência dos deuses. O que nos empurra aos bandos para aquela sala senão um ato de fé, essa indelével sensação de culpa carente de expiação, um pecado original geneticamente programado a ser perdoado pelo mistério do ator?

O teatro é um ritual religioso diante de presenças físicas. Não há diferença perceptível entre o ritual dos índios em torno da fogueira, a Santa Missa, Édipo Rei ou uma peça de Plínio Marcos. São todas peças de teatro, espetáculos de magia onde pactua-se com os deuses e conjuram-se os demônios para que a caça e a guerra sejam propícias no dia seguinte. Hoje e sempre.

Até o exercício do teatro é muito próximo ao de um sacerdócio. Somos, na verdade, sacerdotes de nossos deuses. A prática do palco pressupõe dedicação absoluta, sacrifício e paixão. E o que é paradoxal: prazer no sacrifício - ou seja, vocação.

E o Dia do Teatro? Há quem comemore em 27 de março. Para os adeptos de São Genésio, o ator mártir decaptado por Plautius, seria 3 de setembro. Mas e as musas, as nossas deusas Melpômene e Thalia, cujas estátuas de bronze e mármore cultuo na sala e no jardim? Ficariam de fora? E os pajés, os feiticeiros, deuses do teatro selvagem cujo nascimento se perde na noite dos tempos há muitos milhares de anos?

O fato é que o teatro, como um templo, tem a idade dos deuses. E todos os dias, no momento em que um ator pisa num palco, em qualquer quadrante da Terra, ele estará celebrando com paixão e respeito seus deuses protetores. E aí sempre será Dia de Teatro.


(Por Juca de Oliveira) - (Imagem: Elifas Andreato)

quinta-feira, 6 de setembro de 2007







"Ator, espectador. Palco, texto. O teatro nunca precisou de muito mais que isso para emocionar, provocar a reflexão, fazer rir. Ele mexe com o que há de mais permente no ser humano, através dos séculos e das culturas: a capacidade de amar, de odiar, sentir compaixão ou revolta. E isso não acaba nunca.



A cada espetáculo, a cada apresentação, o teatro se renova, ganha energia na troca com o público.



Aliás, não esqueça: hoje tem espetáculo. Não perca!"




Primeira de quatro séries de propagandas da Rede Globo na revista Veja.