sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Sacerdócio no tablado


Por que as pessoas vao ao teatro ainda hoje? Por que, passadas décadas do advento da televisão, continuamos abandonando o conforto dos sofás, o descompromisso das telenovelas e Big Brothers para nos espremermos nas ante-salas, depois de quase perdermos a batalha dos congestionamentos?

A resposta é que vamos ao teatro como se fôssemos a uma igreja, a um templo. Para afastar os demônios e clamar pela benevolência dos deuses. O que nos empurra aos bandos para aquela sala senão um ato de fé, essa indelével sensação de culpa carente de expiação, um pecado original geneticamente programado a ser perdoado pelo mistério do ator?

O teatro é um ritual religioso diante de presenças físicas. Não há diferença perceptível entre o ritual dos índios em torno da fogueira, a Santa Missa, Édipo Rei ou uma peça de Plínio Marcos. São todas peças de teatro, espetáculos de magia onde pactua-se com os deuses e conjuram-se os demônios para que a caça e a guerra sejam propícias no dia seguinte. Hoje e sempre.

Até o exercício do teatro é muito próximo ao de um sacerdócio. Somos, na verdade, sacerdotes de nossos deuses. A prática do palco pressupõe dedicação absoluta, sacrifício e paixão. E o que é paradoxal: prazer no sacrifício - ou seja, vocação.

E o Dia do Teatro? Há quem comemore em 27 de março. Para os adeptos de São Genésio, o ator mártir decaptado por Plautius, seria 3 de setembro. Mas e as musas, as nossas deusas Melpômene e Thalia, cujas estátuas de bronze e mármore cultuo na sala e no jardim? Ficariam de fora? E os pajés, os feiticeiros, deuses do teatro selvagem cujo nascimento se perde na noite dos tempos há muitos milhares de anos?

O fato é que o teatro, como um templo, tem a idade dos deuses. E todos os dias, no momento em que um ator pisa num palco, em qualquer quadrante da Terra, ele estará celebrando com paixão e respeito seus deuses protetores. E aí sempre será Dia de Teatro.


(Por Juca de Oliveira) - (Imagem: Elifas Andreato)

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