quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Mentira

Experimente, por um momento, aceitar a idéia de que você não é o que você acredita que é, que você se estima demais, e que, então, você mente pra você mesmo. Você se mente sempre, a cada instante, durante todo o dia, toda a vida. Que a mentira te governa a tal ponto que você não pode mais controlar isso. Você é a presa da mentira. Você mente por toda a parte. As tuas relações com os outros, mentira. A educação que você dá, as convenções, mentira. Teus ensinamentos, mentira. Tuas teorias, tua arte, mentira. Tua vida social, tua vida em família, mentira. E o que você pensa de você mesmo? Mentira... igualmente! Mas você não se detém nunca no que você faz, nem no que você diz, porque você acredita em você. É preciso de deter interiormente e observar. Observar sem tomar partido, aceitando, por um tempo, essa idéia da mentira. E se você observar dessa maneira, pagando por si mesmo, sem se apiedar, dando todas as suas pretensas riquezas por um momento de realidade, talvez você veja, de repente, o que você nunca tinha visto antes desse dia. Perceberá que você é diferente desse que você acreditava ser. Você verá que você é dois. Esse que não é, mas que toma o lugar e representa o papel do outro, e aquele que é, mas, tão fraco, tão inconsistente, que mal aparece, e ele desaparece imediatamente. Ele não suporta a mentira, a mínima mentira o faz desfalecer. Ele não luta, ele não existe, ele é vencido antecipadamente. Aprenda a olhar até que você tenha visto a diferença entre as duas naturezas, até que você tenha visto a mentira, a impostura em você. Assim que você tiver visto as tuas duas naturezas, nesse dia, em você, a verdade terá nascido.
(C. Stanislavski)

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