quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O teatro, casa dos sonhos


O teatro, casa dos sonhos... de Bertolt Brecht



Muitos vêem o teatro como casa
De produção de sonhos.
Vocês atores são vistos
Como vendedores de drogas.
Em seus locais escurecidos
As pessoas se transformam em reis e realizam
Atos heróicos sem perigo.
Tomado de entusiasmo
Consigo mesmo ou de compaixão por si mesmo
Fica-se sentado, em feliz distração esquecendo
As dificuldades do dia a dia – um fugitivo.
Todo tipo de fábula preparam com mãos hábeis,de modo a
Mexer com nossas emoções. Para isso utilizam
Acontecimentos do mundo real. Sem dúvida, alguém
Que aí chegasse de repente, o barulho do tráfego aindanos ouvidos
E ainda sóbrio, mal reconheceria sobre essas tábuas
O mundo que acabou de deixar.
E também
Saindo por fim desses seus locais,
Novamente o homem pequeno, não mais o rei
Não mais reconheceria o mundo e se acharia
Deslocado na vida real.
Muitos, é verdade
Vêem essa atividade como inocente.
Na mesquinhez
E uniformidade de nossas vidas, dizem, sonhos
São bem-vindos. Como suportar
Sem sonhos? Mas assim, atores, seu teatro torna-se
Uma casa onde se aprende a suportar
A vida mesquinha e uniforme, e a renunciar
Aos grandes atos e mesmo à compaixão
Por si mesmo. Mas vocês
Mostram um falso mundo, descuidadamente juntado
Tal como os sonhos o mostram, transformado por desejos
Ou desfigurado por medos, tristes
Enganadores.

2 comentários:

Licio Bruno disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Licio Bruno disse...

Verifico Thaysa a autoria do poema ao próprio Bertold Brecht. Perdoe-me pelo comentário anterior, ainda que eu continue a ver o Teatro desta forma.

Faz sentido o poema, se encarado com grande ironia do autor (uma vez que ele mesmo fez uso da linguagem teatral para expor sua visão crítica do mundo, sua ironia corrosiva e mordaz.

Isso me soa então mais como um aviso aos navegantes dos infinitos palcos deste mundo (entendendo aí "palcos" de forma abrangente, a buscarem sua verdade, terem para com o Teatro uma atitude responsável e legítima, a se colocarem antes de mais nada como seres humanos, mundanos, de carne e osso.

"Primeiro vem o pão, depois a moral!"